segunda-feira, 26 de abril de 2010

Contos de Garota (10)


Eu tinha 12, ela 19. Deviam ser umas nove e meia da noite e ela estava no nosso banheiro reformado. Acendeu todas as luzes possíveis para enxergar todos os poros da pele, abriu o estojo de sombras que até hoje eu anseio, apontou o lápis preto, assoprou os pincéis e separou os possíveis batons. Parada ao seu lado eu observava cada movimento, todos os cuidados e cores que ela tinha. O cabelo todo preso por grampos para conservar as ondas e mantê-las fora do rosto.

Parecia nem se ligar do meu deslumbramento por aquele momento, parecia uma artista pintando uma tela importante, combinando cores e escolhendo os melhores pincéis. Tinha a mão firme e decidida ao que ia fazer, achei até que ia errar de tanto eu admirar.

Antes dela terminar, pra mim, já estava pronto, mas ela olhava de um lado, virava para o outro, abria a boca, fechava um olho, sorria e entrava em dúvida, mas depois sempre mexia num detalhe. Achei que tinha terminado umas 3 vezes, mas não. Quando ela finalmente disse que tinha terminado se virou para mim e disse: "O que acha?".

Elogiei muito, como sempre fazia depois de todo esse processo, e me imaginei ali, no lugar dela, com todas aquelas cores e pincéis a minha disposição, para me fazer tão linda como ela estava.

Tirou os grampos e bateu no cabelo que tomou seu devido lugar, calçou o salto, se lançou perfume em todos os cantos do pescoço dizendo que até chegar na festa metade do cheiro teria ido embora, pegou a bolsa e se foi. Enquanto ela ia, eu sorria e esperava com ansiedade a minha vez.

sábado, 10 de abril de 2010

só sabe quem merece saber.

Foi o esperado que se mostrou surpreendendo. O que parecia ser já nem cogitava a ideia de ser como parecia. Se tornou morto, vivendo. Alguns racham em gargalhadas, outros dizem que é difícil se recuperar de tamanha desgraça; mas não os demos ouvidos, são totalmente opostos, devemos nos ater apenas ao equilíbrio. Eu disse ao equilíbrio, não a maioria, que quase sempre é vista como certa.
Cada um a vê com os olhos que tem, veem os olhos que ela tem, mas não só os olhos, o conjunto inteiro de informações que ela traz. De uma simples trança no cabelo a um sapato sem salto no pé mal feito. Cada pedacinho dela trazia uma mensagem que se parecia diferente para cada par de olhos que a fitavam, isso quando fitavam, a maioria [dessa vez burra] só a colocava como parte do cenário, figurante. Mal sabiam esses que ela era a protagonista. E ainda bem que não sabiam, caso outro, ela não seria quem é.